Procurando onde morar em Dublin

Eu costumo dizer que aqui em Dublin não é você quem escolhe o apartamento/casa/quarto ou cafofo pra alugar – é o imóvel que te escolhe. E não tem nada de poético ou romântico nisso, é a crua e dolorosa verdade.

Explico. De acordo com o jornal local (thejournal.ie – “What on earth is the solution to the rental crisis?“, de 10/05/2016), a cada ano são necessárias 30.000 a 40.000 novas moradias para atender a crescente população. E por causa dessa alta demanda e baixa oferta, alugar um cantinho pra você por aqui pode ser um parto.

Eis como aconteceu com a gente. Caímos de para-quedas neste país, sem lenço e sem documento com um passaporte europeu, e saímos à procura de um lar. Como sempre pesquisando nessa maravilhosa rede chamada Internet, descobrimos que o site que nos ajudaria muito a encontrar o que precisávamos seria o daft.ie. Também batemos na porta de três imobiliárias, mas a resposta de todas elas foi “Não temos nada no momento. Fique de olho no daft.ie e assim que vir alguma coisa, LIGUE!

Logo percebi o jogo que eu tinha que jogar: dar F5 no site do Daft a cada 30 ou 40 minutos e sair ligando pros anunciantes – por isso, a real necessidade de já vir falando inglês. Jogamos esse cansativo jogo por 12 dias, e visitamos incontáveis imóveis. E, pra encurtar conversa, a realidade que encontramos foi essa:

  1. Os imóveis são anunciados na mesma rapidez que são locados. Por isso, eu não estou exagerando quando disse que atualizava a página do Daft a cada 30 minutos.
  2. O preço é bastante salgado. Um quitinete (chamado de studio), dependendo da localização e condições do imóvel (que normalmente são bem mal arrumados e minúsculos), custa entre 650 a 900 euros por mês – não faça a conversão pro real pra não ter um troço!
  3. Se você fizer contato por email, eles nunca irão te responder. Por isso, ligue e enfrente o inglês-com-difícil-sotaque-irlandês que as pessoas estarão falando do outro lado da linha. Não tenha medo, você não será o primeiro nem o último que vai se sentir um idiota tentando se comunicar.
  4. Logo no primeiro contato, peça para visitar o imóvel o quanto antes.
  5. Na visita, vá preparado para fechar negócio, isto é, leve o dinheiro do caução (chamado de deposit, anunciado junto à oferta). Se você gostar, não perca tempo e feche na hora, se deixar pra “amanhã” pode ser que não tenha mais.
  6. Se a visita for “open visit”, isso quer dizer que você encontrará uma fila de  – sem exagero – no mínimo 10 pessoas visitando o mesmo imóvel no mesmo horário que você. Aí, se você gostar, você deixa seu nome, telefone, referência de emprego e de antigo proprietário (chamado de landlord), e eles vão analisar quem merece levar o aluguel!
  7. Se você não tem referência de aluguel nem emprego – como nós, recém chegados ao país – ficará muito, mas muito mais difícil, pois eles sempre darão preferência a quem pode provar que é confiável.

Mas, não desista, nós conseguimos! Foram 12 dias de desespero, tendo a experiência mais horrível que é a de não ter um teto (e nem a casa da mãe perto), revendo todos os nossos conceitos de necessidades para um casal, até que visitamos um studio de um senhor irlandês. Quando entramos, giramos nos calcanhares e vimos um teto extremamente baixo, um local desajeitado e sem divisão nenhuma entre a cozinha e a cama. Olhamos um para o outro, e sem proferir nenhuma palavra, entendemos que nenhum de nós dois tínhamos gostado do espaço, mas que era aquilo ou nada. Era pegar ou largar.

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Assim que chegamos…

Pegamos. Sentimos um misto de sensações – tristeza por não conseguir enxergar um lar ali, e alívio por ter um teto onde começar. Combinamos que seria “só por alguns meses”. Dois meses se passaram, e depois de uma limpeza, decoração e “arrumadinha” básica, virou nosso amado lar, de onde não penso em sair tão cedo. É verdade que o teto ainda é baixo, mas hoje em dia nem bato mais a cabeça! 😀

Depois daquela limpeza e arrumadinha <3
Depois daquela limpeza e arrumadinha ❤

Por isso, afirmo: não fomos nós quem escolhemos nosso quitinete. Mas escolhemos aceitá-lo e construir nele um lar.

7 comentários em “Procurando onde morar em Dublin”

  1. (finalmente estou lendo do computador, o que facilita muito deixar comentário rs) muito tudo ótimo isa!!! muito muito bem escrito (pra variar né?)/ um beijo em vocês e feliz por tudo estar dando certo!

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